Vida em Movimento – T3:E2 – Voluntariado

O Brasil tem hoje cerca de 57 milhões de voluntários ativos. E esse é um número a ser comemorado! Ainda mais próximo ao Dia Nacional do Voluntariado, lembrado em 28 de agosto. O voluntariado – e o sentimento que o impulsiona, a solidariedade – é o tema do segundo programa (da terceira temporada) do Vida em Movimento, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen. Além da história dessa prática por aqui – que começa com as “Damas Caridosas”, ainda nas primeiras décadas de vida do Brasil, em 1543 –, o programa também conta curiosidades sobre as primeiras ações voluntárias no mundo e fala também sobre o Programa de Voluntariado Corporativo da Fundação Grupo Volkswagen, que conecta colaboradores das marcas do Grupo que estejam interessados em colaborar a projetos da Fundação, como o Carretas do Conhecimento. Aliás, o podcast convidou a Danielli Saioron, uma das participantes do programa, para contar um pouco com foi a experiência. Além disso, entrevistamos também o Daniel Morais, fundador e diretor executivo da plataforma de voluntariado Atados, para saber mais sobre a solidariedade dos brasileiros e também para falar sobre a parceria com a Fundação – na gestão do Programa Corporativo e também na realização de atividades presenciais nas comunidades do entorno das fábricas e unidades de negócio das marcas do Grupo Volkswagen. O programa está imperdível! Aperte o play e aproveite!
Publicado em

Confira a transcrição do áudio

VINHETA DE ABERTURA

 

FUNDO MUSIAL

 

LOCUÇÃO: Ludmila Vilar

 

Olá, a todas e a todos. Bem-vindos ao segundo episódio da terceira temporada do Vida em Movimento, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen. Eu sou Ludmila Vilar e hoje vamos falar sobre voluntariado. Isso porque, em 28 de agosto comemoramos o Dia Nacional do Voluntariado. A data foi instituída em 1985 para homenagear o trabalho de pessoas que doam seu tempo a causas que precisam de ajuda.

E já a primeira coisa que podemos falar sobre o tema é que ele é de extrema importância para o desenvolvimento da nossa sociedade.  Ainda mais num país com tantas desigualdades como o Brasil. E a segunda coisa para entendermos melhor essa dinâmica é saber que um dos principais motores do voluntariado é a solidariedade.  É ela, esse sentimento que nos leva a querer ajudar o outro,  que impulsiona as pessoas a procurarem atividades voluntárias, doando seu tempo, talento, trabalho e recursos.  E sempre foi assim. A solidariedade costura a história da humanidade e, por consequência, a do voluntariado.

E para começar, vamos voltar a antes de a sociedade estar organizada como a conhecemos hoje. Uma época em que eram os grupos familiares que se encarregavam dos cuidados com crianças, idosos, pessoas com deficiência e qualquer outro membro que precisasse de maior assistência. Com o crescimento das primeiras vilas e cidades, surgiu a necessidade de novas formas de ajuda social.  As primeiras civilizações egípcias, por exemplo, tinham códigos rígidos em relação aos mais vulneráveis. Os mais ricos tinham que transportar uma pessoa sem recursos para o outro lado do rio, isso, sem cobrar.  A religião também sempre teve influência nos atos solidários por meio do incentivo à caridade.

Os ensinamentos judeus, por exemplo, promoviam a ideia de que os pobres tinham direitos e os ricos, deveres. Já as primeiras igrejas cristãs criaram fundos para apoio a viúvas, órfãos, doentes, pobres e prisioneiros. Ao passo que no mundo islâmico, a filantropia foi a pedra fundamental para a construção de hospitais. Em 1859, o suíço Henry Dunant, abalado pela visão de soldados feridos, na Batalha de Solferino, convocou a população local para que os combatentes de ambos os lados recebessem tratamento adequado.

Esse é considerado um marco para a história do voluntariado. Três anos depois, em 1862, o mesmo Dunant publicou o livro “Uma recordação de Solferino”, no qual fez dois apelos: o primeiro, que fossem constituídas sociedades de assistência em tempos de paz e segundo, que esses voluntários fossem reconhecidos e protegidos por meio de acordos internacionais.  Dessa forma, o voluntariado foi, digamos, oficializado na sociedade ocidental. Foram essas ideias que levaram à criação do Comitê Internacional para a Assistência aos Feridos.

Em 1863, foi criado o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Por seus feitos, Henry Dunant ganhou o Nobel da Paz em 1901. E ficou conhecido como o “pai da Cruz Vermelha”. Essas primeiras articulações permitiram, décadas depois, a criação de órgãos internacionais bastante conhecidos atualmente. Um deles é a Anistia Internacional; e o outro, a Organização das Nações Unidas.  Por parte da sociedade civil, a evolução desse espírito solidário possibilitou ainda o surgimento de ONGs como o Greenpeace e o WWF, ambas na área da preservação do meio ambiente. Em 1990, em Paris, a Associação Internacional de Esforços Voluntários aprovou a Declaração Universal do Voluntariado, inspirada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. O dia 5 de dezembro foi considerado o Dia Internacional do Voluntário. A data foi criada com o objetivo de promover a reflexão sobre a cidadania e a solidariedade como valores indispensáveis para a melhoria de vida no mundo todo.

Por aqui, a história do voluntariado se confunde com a própria história do país. E talvez nem todos saibam disso, mas as primeiras iniciativas voluntárias registradas surgiram com a Fundação da Santa Casa de Misericórdia. Isso lá em 1543! Ou seja, os portugueses tinham praticamente acabado de fincar sua bandeira nessas terras.  No início, o trabalho era feito essencialmente por mulheres, conhecidas como “Damas Caridosas”.

A internacional Cruz Vermelha, criada por Henry Dunant, só chegou no Brasil em 1908. Anos depois, em 1942, Getúlio Vargas criou a Legião Brasileira da Assistência, a LBA. E a partir dos anos 50, surgiram as primeiras Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais, as chamadas APAEs. Já na década de 1970, surgiram as primeiras Organizações Não Governamentais no Brasil. Definidas como organizações da sociedade civil que se distinguem do Estado e da iniciativa privada, muitas delas possuem, entre suas atividades, práticas de voluntariado.

Somente nos anos 90 é que começaram a surgir formas mais modernas de atuação social. A Fundação Abrinq e o Conselho Comunidade Solidária, por exemplo, são dessa época. Ambos são responsáveis pela criação do primeiro Programa de Estímulo ao Trabalho Voluntário no Brasil. O projeto tinha o objetivo de promover o conceito e a prática do voluntariado no país, por meio da criação de Centros de Voluntários do Brasil. Esses centros existem até hoje e servem como porta de entrada para todos que desejam iniciar esse tipo de trabalho. A partir dessas iniciativas, o voluntariado cresceu tanto em importância quanto no número de voluntários engajados. Para se ter uma ideia, o Brasil tem hoje cerca de 57 milhões de voluntários ativos. Isso, segundo a pesquisa Voluntários no Brasil realizada em 2021 pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) junto com o Datafolha.

O ano de 2021 foi um marco na história do voluntariado no Brasil. Com a pandemia de Covid-19, o país atingiu a marca de 56% da população adulta, com mais de 16 anos, afirmando fazer ou ter feito alguma atividade voluntária. Para a gente poder comparar, em 2011 esse número representava 25% da população. E antes disso, em 2001, essa taxa era de apenas 18%. E não foi só a quantidade de voluntários que aumentou. As horas dedicadas aos trabalhos também. Ainda de acordo com a pesquisa Voluntariado no Brasil, de 5 horas mensais, registradas em 2011, a média pulou para 18 horas mensais. Para usar uma imagem que todos nós entendemos, é como se cada voluntário brasileiro tivesse contribuído mensalmente, em média, com o equivalente de tempo a 12 partidas de futebol inteiras!

E tem mais notícia boa sobre o voluntariado brasileiro. Ao serem questionados sobre a satisfação com a atividade realizada, a nota média atribuída pelos voluntários foi de 9.1, de um total de 10.  A pesquisa também mostra que além de doar tempo, os voluntários têm o hábito de contribuir de outras formas: 95% também doam bens como alimentos, roupas ou brinquedos. E 50% declaram também doar dinheiro para causas e organizações.

Criada em 1979, a Fundação Grupo Volkswagen tem suas ações e projetos desenvolvidos com recursos dos rendimentos de um fundo constituído pela própria Volkswagen. Em 2021, a Fundação criou seu Programa de Voluntariado Corporativo, voltado aos funcionários das marcas do Grupo no Brasil.  Em sua primeira fase, os trabalhos foram direcionados ao projeto Carretas do Conhecimento, realizado em São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. As Carretas são escolas móveis com infraestrutura completa para a realização de cursos de aperfeiçoamento profissional. O Vida em Movimento conversou com a Danielli Saioron, uma das participantes do programa. Ela nos contou como foi participar dessa iniciativa.

Locutora: Olá, Danielli! Bem-vinda ao Vida em Movimento.

Danielli: Oi, Ludmila, é um prazer imenso estar aqui com vocês. Estou muito feliz de estar participando, para poder falar do voluntariado.

Locutora: Acho que podemos começar com você nos contando como foi sua experiência no Programa de Voluntariado Corporativo da Fundação. Como foi a interação com os alunos?

Danielli: Bem, a interação deles foi muito legal, porque a gente pôde falar com cada um. A gente aplicou uma dinâmica de forma a conhecê-los e a proposta foi conectá-los através da minha história, de forma que eles pudessem ver que, para chegar aonde chegamos, muitos “nãos” foram ouvidos. E os obstáculos a gente sempre transforma em oportunidades. Então, a partir do momento que a gente foca em mostrar que o profissional formado também tem suas fraquezas e vulnerabilidades, assim como eles, eu acredito que a conexão aconteceu ali.

Locutora: Você já tinha feito algum trabalho voluntário antes?

Danielli: Sim, já tive experiências, mas essa foi totalmente diferente, tinha um propósito diferente: o de inspirar jovens que estão em busca de uma oportunidade, uma chance, uma recolocação no mercado de trabalho.

Locutora: Qual a importância da Fundação oferecer essa possibilidade para os colaboradores atuarem como voluntários?

Danielli: Eu acho que foi uma grande oportunidade, principalmente porque fortalece as estratégias da empresa no quesito responsabilidade social. Além de dar oportunidade para nós, funcionários, para que a gente atue. Porque, às vezes, a gente quer atuar em algum trabalho social, mas não tem um norte. E a Fundação, quando ela une, junta as marcas, ela te ajuda a fazer parte disso.

Locutora: Obrigada , Danielli, pela participação aqui no programa. Foi um prazer ter você aqui com a gente.

Danielli: Até logo, Ludmila, foi um prazer estar com vocês e contribuir para essa obra tão bonita.

Dentro das atividades do Programa de Voluntariado Corporativo, a Fundação também tem uma parceria com o Atados, iniciativa social que conecta pessoas e organizações, facilitando o engajamento em diversas oportunidades de voluntariado.

O Atados conta com mais de 3400 ONGs e mais de 200 mil pessoas inscritas na sua plataforma de voluntários. Com a Fundação, apoia a gestão do Programa e a realização de atividades presenciais nas comunidades do entorno das fábricas e unidades de negócio das marcas do Grupo Volkswagen.

Neste episódio, conversamos com Daniel Morais, fundador e diretor executivo do Atados, para saber mais sobre essa parceria e, claro, sobre o voluntariado no Brasil.

Locutora: Olá, Daniel, bem-vindo ao Vida em Moviment0. É um prazer ter você aqui com a gente.

Daniel: Obrigado, Ludmila, estou muito feliz de estar aqui, falar um pouquinho sobre voluntariado, sobre solidariedade e sobre ações sociais que transformam as pessoas.

Locutora: Começa contando para a gente sobre o trabalho do Atados. Vocês juntam causas a interessados em ajudar, não é isso? Como é o dia a dia desse trabalho?

Daniel: A gente começou o Atados há 10 anos, com a ideia de criar uma plataforma de voluntariado, um site – que é o atados.com.br – e nele você pode encontrar várias vagas de voluntariado de todos os tipos: atuar com crianças, com idosos, com pessoas em situação de rua, refugiados… A gente quis facilitar ao máximo, para as pessoas que querem começar um trabalho voluntário, a conhecer as múltiplas causas e se engajarem de acordo com a disponibilidade que ela tem, com a habilidade que ela tem, e com um conhecimento, uma causa que realmente bate no coração dessa pessoa. A gente entende que cada pessoa tem uma habilidade e, às vezes, ela usar essa habilidade para atuar em uma causa social é bom para a causa social, mas é também bom para a pessoa. A pessoa se desenvolve, ela conhece outras pessoas, conhece outra realidade e aprende uma nova coisa que, às vezes, usa para a vida como um todo. Então, é por isso que a gente acredita no poder de mobilização das pessoas e no poder de transformação do voluntariado.

Locutora: Com base na experiência do Atados, é possível dizer qual causa ou público mais carece de voluntários?

Daniel: É interessante essa pergunta porque a gente fez uma pesquisa com base nos usuários do nosso site e a gente conseguiu perceber que temos algumas causas que têm mais afinidade entre as pessoas. Então a causa da educação, combate à pobreza, o meio ambiente e os direitos humanos são as principais causas que os usuários buscam para se tornarem voluntários, por meio da plataforma do Atados, e direcionado principalmente ao público de crianças, mulheres e jovens. Uma coisa interessante é que a causa da educação, a causa da saúde, são causas mais tradicionais para o meio do voluntariado, mas a gente vê que tem uma crescente na causa dos direitos humanos e do meio ambiente, que são causas que são um pouco mais recentes e que mostra um pouquinho desse novo voluntário, um voluntário com perfil mais jovem, um voluntário com perfil até mais político, mas interessado em questões que envolvem a advocacy, a população como um todo e não só direcionada a uma causa mais tradicional, como é um trabalho de educação ou um trabalho junto aos hospitais, que é um pouco daquele voluntário que a gente mais escuta falar, mas que não é apenas assim o trabalho voluntário.

Locutora: A equipe do podcast apurou que existem no Brasil, hoje, 57 milhões de voluntários ativos. É um número que podemos comemorar? Ou seja, a gente pode se considerar um povo solidário?

Daniel: Sim, eu diria que o brasileiro é um povo muito solidário e a gente tem uma característica de ser um povo que atua de forma voluntária, atua com várias causas sociais. Então, você vai em uma favela e as pessoas constroem as casas em conjunto, em comunidade. Existe um espírito comunitário muito forte no Brasil, principalmente em pequenas cidades ou em comunidades onde não há tanto recurso. E esse voluntariado, ele na verdade, é um voluntariado que é informal, as pessoas não atuam diretamente com uma ONG, normalmente atuam de forma informal e contribuem para uma causa social ou para aquela pessoa que está precisando de alguma ajuda naquele momento. Então, a gente tem uma característica de ser um povo que atua com voluntariado informal, mas que tem um potencial gigante de crescer mais essa atuação, de contar com organizações que cada vez mais estão se estruturando para conseguir gerir melhor os voluntários e conseguir ter um impacto maior nas causas sociais.

Locutora: Como a pandemia impactou o cenário do voluntariado no Brasil?

Eu diria que a pandemia expôs uma desigualdade social gritante, a fome no Brasil cresceu, o Brasil voltou ao mapa da fome, a desigualdade social cresceu de uma forma brutal e as pessoas perceberam isso. Quem passava fome teve que ir para a rua pedir comida e pessoas que tinham recurso viram essa situação. Em frente a uma desigualdade tão grande, uma necessidade tão grande, um público tão vulnerável, as pessoas se sentiram mais engajadas em transformar essa realidade.

Locutora: Tendo em vista a situação em que vivemos hoje – socialmente, economicamente e até institucionalmente falando – quais você diria que serão os desafios para o voluntariado no país?

Daniel: Eu vejo que numa sociedade com os desafios que a gente tem hoje, a gente precisa de pessoas que prezam pelas causas sociais, de pessoas que cuidam das outras pessoas, do seu entorno, de pessoas que cuidam das questões que mais carecem e do público em vulnerabilidade social. Então, o Programa de Voluntariado, como faz a Fundação Grupo Volkswagen, é tão importante, porque ele estimula que os colaboradores possam se engajar numa causa social. E isso faz com que eles mudem tanto o seu jeito de trabalhar, mas a sua forma de ver o mundo e o impacto direto nas causas sociais. Uma organização apoiando essa prática é super importante para fomentar o voluntariado, aumentar a participação da sociedade civil como um todo e fortalecer as causas sociais que mais importam. Então, é por isso que eu acredito no voluntariado empresarial como um forma de alto impacto, porque a gente traz o recurso das empresas e das fundações para melhorar um pouco e dar um estímulo a mais nesse trabalho que já feito pelas ONGs de uma forma tão brilhante.

Locutora: Obrigada, Daniel, pela sua participação no podcast Vida em Movimento. Foi um prazer ter você aqui com a gente.

Daniel: Obrigado, Ludmila, queria agradecer ao pessoal da Fundação Grupo Volkswagen. Não são todas as empresas que estimulam uma participação social e uma participação dos seus funcionários em questões como essa. Então é muito bom ver essa atuação por aqui, também. Tchau, tchau.

E assim terminamos esse episódio do Vida em Movimento. Esperamos que o programa tenha ajudado todas e todos a saberem mais sobre o voluntariado. E, quem sabe, até inspirado você a procurar uma forma de colaborar. Um abraço e até a próxima!

O podcast Vida em Movimento é uma realização da Fundação Grupo Volkswagen. Produção, pesquisa e roteiro: RPTCom e Fundação Grupo Volkswagen. Apresentação: Ludmila Vilar. Produção musical, gravação, edição e finalização: BANCA Comunicação.