Estudo traça caminhos para que o Brasil aproveite a descarbonização para gerar novos empregos
A Fundação Grupo Volkswagen, em parceria com a Agenda Pública e com apoio da União Europeia, lançou no dia 19 de novembro, na sede da FGV, em São Paulo, a pesquisa “Empregos do Futuro no Brasil: transição justa para economias de baixo carbono”. O estudo, considerado inédito no país, propõe estratégias para que a descarbonização da economia e a transformação digital contribuam, de fato, para o desenvolvimento inclusivo dos territórios e para a geração de renda com justiça social.
O documento revela que o Brasil pode criar 7,1 milhões de empregos verdes até 2030 e 15 milhões até 2050, caso invista em políticas estruturantes voltadas à formação profissional, inovação, diversificação produtiva e inclusão dos grupos historicamente excluídos — com foco especial nas juventudes periféricas, mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIAPN+ e pessoas com deficiência.
“Nosso papel é apoiar a construção de caminhos que unam sustentabilidade e geração de renda, garantindo que jovens, mulheres e comunidades vulneráveis tenham condições reais de mobilidade social nesse novo cenário”, afirmou Vitor Hugo Neia, diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen. Ele reforçou que a transição para uma economia verde precisa deixar de ser apenas um conceito ambiental e passar a ser encarada como uma alavanca de desenvolvimento social e econômico — especialmente nos territórios mais impactados pelas desigualdades.
Um novo pacto para o desenvolvimento
A tese parte de uma premissa clara: os empregos do futuro não surgirão sozinhos. Eles precisam ser viabilizados por meio de pactos territoriais que envolvam setor público, privado e sociedade civil, com foco na modernização das políticas de desenvolvimento, na requalificação da força de trabalho e na construção de economias mais resilientes.
Para orientar esse processo, o estudo desenvolveu o Índice de Capacidade de Transição Sustentável Municipal (ICTSM), que avalia o nível de vulnerabilidade socioeconômica e a capacidade adaptativa de municípios de diferentes regiões do país. O índice leva em conta indicadores como informalidade, escolaridade, inovação, capacidade fiscal e dinamismo empresarial, oferecendo um diagnóstico completo dos desafios locais e caminhos para a ação.
Oportunidades para o Brasil — e desafios
Os setores com maior potencial de geração de empregos verdes incluem energias renováveis, bioeconomia, economia circular, saneamento ambiental, construção sustentável, agricultura regenerativa, restauração ecológica, mobilidade de baixo carbono e design de produtos sustentáveis.
A cadeia automotiva, por exemplo, é apontada como estratégica. Em São Paulo, um dos principais polos industriais do país, o avanço da eletrificação dos veículos, anunciado pela Volkswagen, exigirá a formação de novos perfis profissionais e políticas de transição que assegurem emprego digno à população local. “Essa transformação só fará sentido se garantir que as pessoas estejam preparadas para ocuparem os novos postos de trabalho”, destacou Domênica Falcão, gestora de Impacto Social da Fundação Grupo Volkswagen.
O papel da Fundação Grupo Volkswagen
Ao completar 50 anos em 2025, a Fundação Grupo Volkswagen reafirma seu compromisso com a mobilidade social por meio da inclusão produtiva, do fortalecimento das capacidades locais e da influência em políticas públicas. Com autonomia financeira e forte atuação em territórios vulnerabilizados, a Fundação tem investido em projetos que preparam jovens e adultos para os empregos do futuro, como o programa CO.DE School, voltado à formação em tecnologia.
Para Domênica, é essencial que a transição justa esteja ancorada na escuta ativa dos territórios. “A mudança precisa considerar as vocações locais e respeitar as diferentes realidades do país. A juventude, sobretudo a negra e periférica, é um ativo estratégico, mas precisa de oportunidades reais de formação e inserção produtiva.”
Uma agenda de futuro
Durante o lançamento da pesquisa, Sérgio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública, destacou que os territórios mais dependentes de cadeias intensivas em carbono — como mineração, óleo e gás ou agropecuária extensiva — não podem ficar para trás. “Modernizar as políticas estaduais e municipais de desenvolvimento econômico é uma urgência estratégica. A transição para economias de baixo carbono não pode ser conduzida com instrumentos do passado”, disse.
A tese propõe ainda a criação de políticas customizadas por região, considerando as especificidades de estados como Pará, Maranhão, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. “Não há uma única resposta. É preciso reconhecer os desafios locais e agir de forma articulada”, completou Andrade.
Ao lançar a pesquisa, a Fundação Grupo Volkswagen contribui de forma decisiva para qualificar o debate sobre desenvolvimento sustentável no Brasil. Mais do que apontar caminhos, a instituição reafirma que é possível construir uma transição ecológica que una justiça climática, trabalho digno e inclusão social.