Desigualdade e Mobilidade Social: onde estamos e quais são as estratégias de superação

Palestra do diretor da FGV Social, Marcelo Neri, mostra que é possível diminuir a pobreza no Brasil se todos setores colaborarem

Evento de 45 anos da Fundação Grupo Volkswagen. Marcelo Neri, presidente da FGV, aula magna sobre mobilidade social no Brasil

O diretor da Fundação Getúlio Vargas Social e ex-ministro chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcelo Neri, analisou e respondeu alguns questionamentos no evento de 45 anos da Fundação Grupo Volkswagen, realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS), em 01 de Julho. 

Embasado por dados e fatos, Neri deixou claro que, embora o Brasil tenha avançado nos últimos 40 anos, ainda há muito a fazer. O economista respondeu o que é a mobilidade social, como ela se relaciona com a desigualdade, e o que fazer para que mais brasileiros prosperem e saiam da pobreza. 

MOBILIDADE SOCIAL

A mobilidade social é a nova causa abraçada pela Fundação, que quer contribuir ainda mais com a sociedade civil. Ela mostra a capacidade que um grupo ou nação tem de se transformar ao longo do tempo. 

Quanto o país muda de uma geração para a outra? Tem melhoria na segurança alimentar, na renda dos cidadãos e na qualidade de vida? A mobilidade social traz prosperidade, igualdade de oportunidades e sensibilidade às demandas da sociedade. Além disso, mantém os padrões de vida conquistados.

“Quando a transformação não acontece, não há imobilidade social: se o pai é pobre, o filho é pobre. Se o pai é rico, o filho é rico. Não há ascensão. Isso afeta diretamente a desigualdade social, que é a mãe de todos os problemas sociais do Brasil”, ressaltou Marcelo Neri.

DADOS

Um levantamento feito pela PNAD e PNADC Anual Harmonizadas entre 1976 e 2022 mostra que a desigualdade social no Brasil começou a cair a partir de 2001, mas estagnou em 2014. Durante o período pesquisado, é possível observar que a pobreza cai em ano eleitoral e sobe no ano seguinte, evidenciando que há um oportunismo político com a concessão de benefícios, que não é perene.

A desigualdade social pode ser atribuída a vários aspectos. De acordo com Neri, a educação explica um terço da desigualdade brasileira. O filho de alguém com diploma de faculdade tem 78% de chances de chegar ao ensino superior. Já o filho de uma pessoa com três anos de estudo tem 15%.

Além disso, há o efeito firma “A escolaridade é importante. Mas o local onde as pessoas trabalham determina a posição do cidadão na distribuição de renda”, pontuou Neri. “A empresa é um mecanismo de ascensão social relevante, e ações corporativas, como práticas ESG, também”, completou.

Ações relacionadas a ESG podem ajudar a mudar a realidade de muitas comunidades, não apenas em relação ao meio ambiente. Mas promovendo a inclusão da minoria e da diversidade, defendendo os direitos humanos, oferecendo oportunidades e abolindo todo tipo de discriminação.

INCLUSÃO PRODUTIVA

Não é só a educação que pode fazer a diferença na vida dos brasileiros, oportunidades no mercado de trabalho, também. Neri traçou uma linha do tempo mostrando como a mobilidade social fica limitada sem emprego digno.

Segundo ele, em 1930, a escolaridade média do brasileiro era de 1 ano de estudo, já em 1980, se tornou 3 anos, e no ano de 1990, o Brasil atingiu a média mundial de 6 anos de estudo. A partir desse momento, passou a ser chamado de “o País do futuro”

No ano passado, o Brasil passou esse índice para 9,3 anos de estudo, mas a produtividade não acompanhou o avanço da educação e sem postos de trabalho, os indicadores econômicos não melhoraram.

“A produtividade é imprescindível, principalmente para os jovens de todo o mundo”, enfatizou. Para haver mobilidade social, os jovens que terminam seus estudos devem encontrar oportunidades de renda e crescimento profissional, o diploma e a qualificação são apenas parte do processo.

ESCALADA LENTA

Para certos grupos da sociedade, como pretos, pardos e indígenas, a mobilidade social é mais lenta, cujo índice de mobilidade é 5% menor que a dos brancos. Isso também é refletido nos gêneros, onde mulheres têm um ponto de mobilidade 12% menor que em relação aos homens.

São necessárias 9 gerações para os mais pobres alcançarem a classe média, que equivale a mais de 150 anos, conforme um estudo de Brito et al (2022). De acordo com a pesquisa, só 2,5% dos pobres do Brasil chegam ao grupo dos 20% mais ricos.

Por isso, Neri destaca que as políticas públicas também são essenciais para promover a mobilidade social, combatendo a desigualdade e alavancando a vida de milhões de pessoas.

Além da educação e inserção de mais pessoas no mercado de trabalho, Neri indica a distribuição de renda como fator crucial para o giro da economia, sobretudo para as classes sociais mais baixas, tendo como exemplo o  Bolsa Família, e que em comunidades locais, é um valor que pode provocar transformações a longo prazo. 

Mobilidade Social e a FGWV

A Fundação Grupo Volkswagen adotou a mobilidade social como nova causa prioritária em reconhecimento à importância de promover oportunidades que reduzam as desigualdades e ampliem o acesso a uma vida digna para todos. É por este motivo que uma aula magna promovida no evento comemorativo de 45 anos da Fundação é tão importante. 

Com o foco nesse tema, a Fundação reafirma seu compromisso em transformar realidades, oferecendo iniciativas de assistência social, qualificação e inclusão produtiva, que impulsionem o potencial de indivíduos e comunidades, promovendo um futuro mais equitativo e inclusivo.

Gostou do que aprendeu até agora? Confira a Aula Magna do Marcelo Neri, diretor da Fundação Getulio Vargas Social e saiba muito mais. 

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