O projeto Costurando o Futuro, criado pela Fundação Grupo Volkswagen em 2009, tem apresentado bons resultados ao promover o empoderamento e a autonomia de profissionais de costura a partir de formação e fomento ao empreendedorismo. Os participantes, na grande maioria mulheres, recebem qualificação técnica em costura, como estampar, moldar e transformar tecidos, além de formações voltadas ao planejamento de negócios, como vendas, marketing, atuação em rede sociais, entre outras ferramentas voltadas ao empreendedorismo, a partir de aulas teóricas e práticas ministradas por profissionais especializados.
Esse agrupamento de artesãs se transformou numa rede que gera troca de conhecimentos e que recebe doações de tecidos automotivos reutilizáveis das empresas do Grupo Volkswagen, seus parceiros e fornecedores, que se transformam em matéria-prima para a confecção de mochilas, nécessaires, cases de notebook e bolsas.
O curso tem curadoria e participação do estilista Walter Rodrigues, um dos nomes mais importantes da moda brasileira, e da designer uruguaia Agustina Comas, que já levou sua marca para as passarelas do Brasil Eco Fashion Week e foi premiada na categoria “Inovação e Tecnologia” pelo Prêmio Fashion Futures em 2021.
Vitor Hugo Neia, Diretor Superintendente da Fundação Grupo Volkswagen, afirma que o projeto visa contribuir para o desenvolvimento de comunidades por meio do empreendedorismo em costura, unindo responsabilidade social e preservação do meio ambiente. “Um dos objetivos é celebrar o papel das mulheres empreendedoras. A iniciativa é fundamental para a equidade de gênero e para inspirar uma nova geração de líderes”, diz Neia.
Nova vida
Um bom exemplo dos frutos do Costurando o Futuro é protagonizado por Jô Melo, de 62 anos. Sua vida deu uma reviravolta em 2016, quando conheceu o projeto. “Eu era uma simples dona de casa, que fazia panos de prato com barrados em algodão, usando a técnica patchwork. Eu vendia para uma única família, que me ajudava quando podia com a compra”, relembra. Logo no primeiro encontro, Jô tomou gosto pelas aulas e se surpreendeu como os tecidos automotivos, usados em revestimentos de bancos e cintos de segurança, poderiam dar vida a peças lindas e duráveis.
Após as aulas teóricas, veio a oportunidade de expor as peças criadas. “Jamais vou me esquecer daquele momento. Foi ali que me senti abraçada pelo projeto e apoiada de uma forma que nunca havia sentido. Eu estava com muita vergonha de mostrar a bolsa que fiz, pois ainda me faltava autoestima. Foi quando a Sandra, que é responsável pelo projeto, me incluiu no grupo e valorizou o meu primeiro trabalho, me abraçando de uma forma que me emociono até hoje”, diz Jô.
A coordenadora de projetos sociais da Fundação Grupo Volkswagen, Sandra Viviani, recorda como a bolsa feita pela Jô estava bem-acabada, demonstrando o potencial da profissional. “O acabamento era perfeito, demonstrando o cuidado dela com todos os detalhes. O reconhecimento foi fundamental para a consistência dos resultados dela, que se sentiu confiante para se manter no curso e seguir um futuro promissor no empreendedorismo”, afirma Sandra.
E foi a partir daquele momento, que novas peças foram criadas, dando origem à Divina Agulha, a indústria da moda liderada por Jô Melo. “O projeto Costurando o Futuro mostrou que eu não sou apenas a Jô, a mulher, mãe, esposa e dona de casa, eu sou mais do que isso: sou um ser humano com valores e qualidades, capaz de empreender e empregar pessoas no meu ateliê. Foi a partir do projeto que eu abri minhas caixas internas e coloquei para fora todo o meu potencial, minha criatividade e minha força empreendedora. Eu sou uma mulher que pode tudo, capaz de ajudar outras pessoas com aquilo que eu aprendi”, afirma, orgulhosa.
A Divina Agulha, conta com oito máquinas industriais e atende a grandes clientes, como a própria Volkswagen e a Audi, que integra o Grupo. Na equipe, a Jô conta com a filha, que atua na área administrativa; e o marido, que é aposentado e se encantou com a vocação de costura. O trabalho, atualmente, é terceirizado e a Jô emprega mão de obra na produção dos produtos.
Sobre o próprio futuro, Jô sonha alto. “Quero crescer ainda mais, aproveitando todas as oportunidades que o projeto oferece. Desejo ter mais máquinas, em um ateliê maior, com mais materiais e com condições de ajudar mais pessoas. Descobri, na prática, que posso ir à luta, pois não vou perder a batalha. Sem esmorecer, hoje eu sei que mesmo diante dos desafios, eu posso superá-los, pois sou uma mulher forte, com condições de construir um futuro melhor para outras mulheres como eu, além de outras famílias, como a minha”.
Para potencializar a exposição do trabalho realizado pelas artesãs, em 2022, a Fundação lançou seu e-commerce, que disponibiliza para venda as peças produzidas pelas profissionais, que já passaram por inúmeras formações oferecidas pelo Costurando o Futuro, incentivando o consumo consciente e apoiando a continuidade do projeto.
“O projeto Costurando o Futuro transforma a vida daspessoas, dando a oportunidade para a costura impactar positivamente no cotidiano, criando possibilidades de empreender, gerar renda e ampliar a autoestima de todos os envolvidos”, conclui Vitor Neia.