Vida em Movimento lança episódio sobre Racismo Ambiental

Novo videocast da Fundação Grupo Volkswagen discute injustiças ambientais, dados alarmantes e caminhos para transformar territórios

Neste mês de novembro, em que foi celebrado o Dia da Consciência Negra, a Fundação Grupo Volkswagen lançou um episódio especial sobre Racismo Ambiental em seu  videocast oficial Vida em Movimento.

Para falar sobre este assunto, foram convidadas Maíra Silva, especialista em Clima e Territórios do Fundo Agbara, e Domênica Falcão, gestora de Impacto Social da Fundação Grupo Volkswagen.

Neste debate, mediado pela jornalista Flávia Oshima, elas explicam por que populações negras, indígenas e periféricas são sempre as mais atingidas pelos efeitos da crise climático; como a pobreza influi nisso e por que a mobilidade social pode mudar este cenário.

O que é racismo ambiental e por que isso importa

Racismo ambiental é quando os impactos negativos causados por problemas ambientais, como enchentes, deslizamentos, secas, calor extremo, falta de saneamento e poluição, atingem de forma desproporcional populações negras, indígenas, periféricas e mais pobres.

Em outras palavras, não é que o desastre “escolhe” quem atingir, mas sim que a estrutura social e urbana do país empurra certos grupos para áreas de maior risco e menor infraestrutura, fazendo com que essas pessoas sofram mais e tenham menos condições de se proteger e se recuperar.

Exemplos comuns:

  • Bairros periféricos, majoritariamente negros, com menos acesso a saneamento básico e mais exposição a enchentes.
  • Comunidades indígenas afetadas por desmatamento, mineração e contaminação de rios.
  • Moradias irregulares em áreas de encosta, onde deslizamentos são mais frequentes.
  • Regiões sem árvores e com muito cimento, onde o calor extremo é mais intenso, geralmente também territórios pobres.


Isso é racismo porque o problema não nasce do clima em si, mas de uma estrutura histórica que concentra riscos em certos grupos e protege outros. “É quando violações ambientais recaem sobre populações racializadas e periféricas de maneira sistemática, devido à forma como cidades e políticas públicas foram construídas ao longo do tempo”, ressalta Maíra.

Segundo ela, o episódio reforça ainda que, apesar do assunto estar ganhando visibilidade, faltam dados oficiais no Brasil, o que revela a falta de prioridade política e institucional para enfrentar o problema. “Muitas vezes, deslizamentos e enchentes são tratados como fatalidades isoladas, sem considerar o cruzamento entre clima, raça e território”, afirmou.

Dados que escancaram a desigualdade

A conversa traz números contundentes:

  • 61% das vítimas fatais de deslizamentos no Brasil entre 2011 e 2021 eram pessoas negras (IPEA)
  • 82% das moradias em áreas de maior risco ambiental nas capitais estão em territórios majoritariamente negros (Atlas da Violência/IBGE)
  • Áreas com maioria preta ou parda têm menos acesso a saneamento básico, coleta de lixo e infraestrutura urbana


“Esses dados mostram a desigualdade e confirmam uma realidade que os territórios já conhecem na prática. Isso só reforça por que o debate sobre clima no Brasil precisa, necessariamente, ser também um debate sobre raça”, destacou Maíra.


Como as comunidades enfrentam a crise climática

As convidadas compartilharam exemplos reais de como populações vulnerabilizadas lidam com ciclos anuais de enchentes e secas. Muitas vezes, contam com tecnologias sociais, como hortas comunitárias, iniciativas de adaptação e redes de apoio, criadas pela própria comunidade para suprir o que o Estado não entrega.

Maíra cita experiências de Recife e de territórios marcados por inundações recorrentes, onde líderes comunitárias desenvolvem alternativas de baixo custo para monitorar chuvas, organizar ações pós-desastre e fortalecer as redes locais

Domênica lembra que a Fundação Grupo Volkswagen também vivenciou isso de perto: em 2024, a comunidade Alba, na região do Jabaquara, em São Paulo, enfrentou fortes enchentes que afetaram organizações parceiras e participantes de projetos sociais. A Fundação precisou acionar recursos para apoiar a retomada das atividades locais.

O caso mostra como as mudanças climáticas atravessam de forma direta o cotidiano dos programas sociais e por que é difícil pensar em inclusão sem considerar sustentabilidade e clima.


Mobilidade social também é justiça climática

Um dos pontos mais importantes do episódio é a relação entre racismo ambiental e mobilidade social, área onde a Fundação Grupo Volkswagen atua fortemente.
A lógica é simples. Quanto menor o acesso a direitos, educação e trabalho formal, maior a vulnerabilidade climática.


Por isso, de acordo com Domênica, é fundamental investir em:

  • Qualificação profissional,
  • Fortalecimento de organizações comunitárias,
  • Empreendedorismo local,
  • Inclusão produtiva.

E o que esperar daqui para frente?

O episódio reforça que o país tem uma oportunidade histórica de colocar justiça climática e equidade racial no centro das decisões globais. Segundo as convidadas, isso exige:

  • Produção e transparência de dados sobre raça, território e clima;
  • Políticas públicas integradas (habitação, saneamento, transporte, educação e saúde);
  • Financiamento climático voltado para comunidades vulnerabilizadas;
  • Participação ativa das organizações de base;
  • Atuação conjunta entre Estado, empresas e sociedade civil.

“Em outras palavras: enfrentar o racismo ambiental é enfrentar a desigualdade no Brasil. E que não existe futuro sustentável se ele não for, também, antirracista”, enfatizou Domênica.

Assista ao episódio completo neste link. (https://www.youtube.com/watch?v=hXDWYyoo8Ug)