Mais inclusão produtiva: os desafios de enfrentar a pobreza para fomentar a mobilidade social 

Em mesa redonda promovida pela FGVW, especialistas discutiram estratégias eficazes para garantir a inclusão produtiva de grupos vulnerabilizados socioeconomicamente 

Você sabe o que é inclusão produtiva? Esse conceito une a luta contra a exclusão social com o aumento da empregabilidade, ou do empreendedorismo. O objetivo é garantir renda digna e estável para a população, o que nos ajudaria a superar, enquanto sociedade, mazelas como a vulnerabilidade econômica e social. 

A partir dessa ideia, especialistas se reuniram em painel organizado pela Fundação Grupo Volkswagen para debater os desafios de enfrentar a pobreza para fomentar a mobilidade social. Para debater o assunto, Renata Pifer, diretora de finanças da Fundação Grupo Volkswagen; e Viviane Naigeborin, Superintendente Fundação Arymax e conselheira de diversos setores da sociedade civil, debateram de forma aprofundada o fomento à inclusão produtiva e o que precisa ser levado em conta em uma questão tão complexa. 

Inclusão produtiva por definição 

Durante a conversa, Viviane explica, de forma didática, o conceito de inclusão produtiva: “O conceito de inclusão produtiva é a inserção de pessoas em vulnerabilidade econômica no mundo do trabalho, seja pela via do empreendedorismo, trabalho por conta própria, seja pela via da empregabilidade, tanto em contextos urbanos como em contextos rurais”. 

Segundo a especialista, é importante assegurar às pessoas uma renda estável e digna, além de melhoria na qualidade de vida, pois isso contribui para a produtividade do Brasil. 

O desemprego relativo 

Durante essa etapa, Naigeborin se aprofunda em dados para explicar que, apesar dos índices recentes mostrarem uma queda na taxa de desemprego, existem detalhes que nos mostram um longo caminho pela frente: 

“Se a gente começar olhando por uma taxa que sai a cada três meses nos jornais, hoje, a taxa de desemprego no Brasil cada vez ela é menor, e está em 7,4%. Mas é interessante a gente entender um pouco o que está por trás desse número. A taxa de desemprego costuma medir aqueles que estão buscando trabalho. E hoje, no Brasil, a gente tem uma população significativa de pessoas que desistiram de procurar trabalho, que a gente chama de ‘desalentados’”. 

Olhando de forma mais atenta, existem também disparidades entre gêneros e etnias, além de uma questão particular envolvendo os mais jovens. Enquanto para homens o desemprego está em 6%, o índice sobe para 9% entre as mulheres. O mesmo ocorre quando comparamos brancos com negros e pardos. 

Já os mais jovens estão duas vezes mais desempregados do que o restante da população economicamente ativa. Os demais, trabalham em pequenas e microempresas de maneira informal com pouca ou nenhuma proteção. 

Viviane ainda alerta para a dimensão do problema quando olhamos para regiões como o Norte e o Nordeste: “nós não estamos falando de um Brasil. Estamos falando de Brasis, e a realidade da inclusão produtiva é uma no sul e no sudeste, e outra no Norte e no Nordeste. Por último, a realidade do mercado de trabalho na área rural é muito diferente das áreas urbanas. Ao todo, 66% da pobreza do Brasil está concentrada nas áreas rurais”, destaca. 

O raio-x da informalidade 

Durante o painel, Viviane cita um estudo realizado pela Fundação Arymax para entender o contexto da informalidade no Brasil. Segundo a especialista, existem tipos diferentes de trabalhadores informais, e o principal deles é o que ficou conhecido como “informal de subsistência”. 

“Eles são 61% dessa população. É aquela pessoa que carrega caminhão, ajuda o vizinho da venda a ir comprar frutas. No outro dia, faz um reparo no telhado de um outro vizinho, e assim ela vai levando. É a pessoa que vive de ‘bicos’ e tem pouquíssima qualificação, não é especialista em nada. Essa é a maioria dos informais do Brasil. E eles são assim porque possuem baixa qualificação, baixo acesso às oportunidades, poucos sonhos e nenhum projeto de vida.” 

Outro tipo bem popular de trabalhador informal é o “informal com potencial produtivo”: “É aquele pintor, que aprendeu o ofício com o pai, mas ele não é especializado, não tem um curso, não sabe fazer pinturas sofisticadas, mas ele tem potencial. Se ele tiver acesso à formações, a um mercado e a um cadastro que conecte ele com clientes, pode melhorar a sua renda. Ele não é um informal porque quer, mas porque muitas vezes não tem acesso à informação de como se formalizar”, explica Viviane. 

Por fim, a menor parte dos informais são os que trabalham assim por opção, como prestadores de serviço que tiveram acesso à formação e se capacitaram dentro das suas carreiras: psicólogos, contadores, fisioterapeutas e assim por diante. O estudo da Arymax ainda alerta para o que eles chamaram de “formais frágeis”: uma parcela da população produtiva que está em empregos com pouca ou nenhuma seguridade social, contratos intermitentes e sem perspectiva de crescimento. 

O papel de cada um na luta pela mobilidade social 

Por fim, Viviane alerta para o papel de setores importantes da sociedade a respeito da inclusão produtiva. A especialista afirma que os profissionais precisam receber, por parte do mercado, uma cultura de aprendizagem e capacitação. Para o poder público, fica o dever de investir em políticas públicas que acelerem a geração de novos empregos, a qualificação com base nas mudanças geradas pelos avanços tecnológicos e mudanças ambientais. 

“O país como o nosso pode sonhar com o que ele quiser. Se não tivermos um esforço integrado de olhar para o futuro, nós nunca vamos ter um país seguro e produtivo para todos nós. Dessa forma, a gente perderia a oportunidade de fazer do Brasil o país que ele pode ser. E a inclusão produtiva é o melhor caminho para a redução da pobreza e das desigualdades”, finaliza. 

Confira o painel completo! 

O bate-papo completo entre Renata Pifer e Viviane Naigeborin está no canal oficial da Fundação Grupo Volkswagen no Youtube. Clique aqui e confira o conteúdo na íntegra.