Na Região das Barras, o Empreenda Social mostrou que empreender com dignidade é também sonhar com justiça e futuro
Na Região das Barras, em Resende (RJ), onde o acesso à renda ainda é um desafio diário, nasceu uma iniciativa que inspira e transforma: o Empreenda Social, uma iniciativa da Fundação Grupo Volkswagen realizada em parceria com o Instituto Toré.
O Empreenda Social, que começou se chamando Laboratório de Aceleração Social (Lab Acelera), é programa que une formação e cuidado aos atendidos. Em 2024, 18 mulheres, em sua maioria jovens negras e LGBTQIAPN+, participaram da formação técnica em parceria com o SENAI, com foco em empreendedorismo, gestão e geração de renda. Ao longo de três meses de aulas, elas receberam bolsa-auxílio de R$ 700 mensais — um apoio financeiro fundamental para garantir permanência e tranquilidade durante o aprendizado.
Enquanto as mães estudavam, cerca de 180 crianças — seus filhos e filhas — foram acolhidas com atividades de recreação e alimentação, permitindo que essas mulheres pudessem se dedicar ao curso com presença e foco.
Além da formação técnica, as participantes também vivenciaram oficinas sobre competências socioemocionais, fortalecendo não apenas suas habilidades profissionais, mas também o olhar para si mesmas, suas histórias e seus propósitos.
Ao final do percurso, as jovens apresentaram seus projetos com brilho nos olhos e novas palavras no vocabulário: autoconfiança, pertencimento, coragem.
Lançamento da nova fase
Até junho de 2025, o Empreenda Social era considerado um piloto. Neste mês de agosto, o Instituto Toré realizou um evento em Resende oficializando o Empreenda Social como um projeto e em expansão. A partir de agora, mais comunidades serão atendidas: nas regiões do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, Montanhão, em São Bernardo do Campo (SP).
O encontro marcou o início das atividades do projeto e reuniu participantes, parceiros e apoiadores. A programação ainda contou com um momento de acolhimento, entrega das blusas do projeto às participantes, além da apresentação dos conteúdos pedagógicos da trilha formativa desenvolvida pelos parceiros Fundação e Toré.
“Iniciamos com um laboratório e, hoje, queremos ampliar o Empreenda Social e sua capacidade de impacto. E para isso continuaremos contando com a parceria do Senai, que está conosco em todos os territórios, para ajudar a executar nossas ideias e os projetos que a Fundação financia”, ressaltou Maria Ruanes, analista de Responsabilidade Social.
Oportunidade de ouro
Em apenas um ano, o Empreenda Social mostrou que quando mulheres têm acesso à formação de qualidade, apoio financeiro e rede, todo um território se movimenta. Elas aprendem, criam, compartilham, empreendem e lideram. São sementes de transformação que, ao germinarem, modificam o presente e ampliam o futuro de toda uma comunidade.
“É a primeira vez que ganho alguma coisa, que participo de alguma coisa. Que faço algo para mim e que consigo me ver. Eu. Porque eu sempre vejo meu filho em primeiro lugar. Aqui aprendi que em primeiro lugar vem eu, por que como vou cuidar dele se ele vem em primeiro lugar? Eu estou muito feliz porque aqui aprendi a olhar para mim, pelas amizades que adquiri aqui no curso. Hoje sinto que posso, e isso é muito bom. É um sentimento novo, muito bom”, emociona-se Sharla Cristiane de Oliveira.
“Neste projeto eu vi uma oportunidade de adquirir mais conhecimento nas áreas que eu parei. No segundo mês, com a ajuda da bolsa-auxílio e incentivo do Empreenda Social voltei a fazer meu artesanato”, comemora Renata Jesus Valeriano.
Formação comunitária
O Empreenda Social não ficou só dentro da sala de aula. Ele também chegou nas ruas, nas reuniões, nas associações de bairro — no coração da comunidade.
Quatro associações de moradores da Região das Barras receberam apoio direto e aprenderam, junto com o projeto, como organizar melhor suas ações. Foram 23 lideranças comunitárias capacitadas em temas essenciais como: como conseguir recursos, escrever projetos, cuidar da gestão do dia a dia e trabalhar em rede com outras iniciativas. Agora, essas lideranças têm mais segurança e conhecimento para continuar transformando o território, com mais independência e impacto.
E para que todas essas ações façam ainda mais sentido, o projeto também escutou e estudou a região. Um diagnóstico foi feito com dados sobre juventude, gênero, comércio e serviços locais. Com essas informações, foi criado um plano de potencialidades, ou seja, um mapa de caminhos possíveis para a inclusão produtiva — sempre ouvindo quem mora ali e respeitando seus sonhos, saberes e necessidades.
“Não veio um projeto pronto. Ele foi formado na comunidade, com pesquisa corpo a corpo. As pessoas opinaram para formar o Empreenda Social, com todo mundo interagindo, falando das necessidades, do que precisa, do que falta. É por isso que está dando certo”, testemunha Antônio Sergio Calazans Júnior, líder comunitário.
“É um projeto com muita formação, muito conteúdo, muito acesso aos direitos e bens culturais que eles desejam, todas as soluções que eles encontraram para transformar essa realidade, para fazer dessa comunidade potente, trazer a força dessa comunidade potente para que todos possam enxergar esse trabalho que já é feito pelas lideranças está dentro desse projeto, feito com tanto carinho”, ressaltou Aline Ribeiro, oficineira do Instituto Toré.
Foi a primeira edição do Lab Acelera no território das Barras — e os resultados já mostram que valeu a pena. Tanto que a iniciativa será expandida em 2025, com novas turmas e novo nome: Empreenda Social.