O desenho de um programa inédito de educação integral para os anos finais do Ensino Fundamental vai contar com a participação ativa de educadores de 24 escolas da rede estadual paulista e de quatro Diretorias de Ensino. As unidades começarão a implementar a proposta no início do ano letivo de 2019, por meio da parceria entre o Instituto Ayrton Senna e a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, que poderá expandir o número de escolas envolvidas a partir de 2020.
Em 14 de dezembro, cerca de 150 representantes das equipes dessas escolas e diretorias estiveram reunidos com educadores do Instituto Ayrton Senna para o encontro de apresentação dos princípios e linhas gerais da proposta pedagógica para essa etapa de ensino, que compreende o ciclo do 6º ao 9º ano. O objetivo é construir conjuntamente um modelo de escola que, mesmo em tempo parcial (quando os estudantes ficam até 5 horas por dia na escola), possa oferecer uma educação integral.
Para isso, o desenho inicial do programa contempla os princípios da educação integral, tendo como norte o desenvolvimento pleno do estudante (criar oportunidades para ele se desenvolver com autonomia em todas as dimensões, incluindo a cognitiva e integrando a ela a socioemocional), passando pelo uso de estratégias de integração curricular (saiba mais abaixo) para atingir esse objetivo. Como pilar, parte de uma visão de estudante – uma busca por compreender quem são esses adolescentes e seus projetos de vida.
“Construir uma proposta para esses estudantes implica buscar conhecer suas visões de mundo, seus desafios e os diferentes aspectos envolvidos na constituição dessas identidades”, afirmou Helton Souto, gerente de projetos do Instituto, “A adolescência é uma fase da vida constituída de profundas transformações que afetam os estudantes em várias dimensões de sua existência e é fundamental a escola dialogar com seus interesses, necessidades e vontades próprias deste momento. Para isto é também importante uma escola em transformação”, completou.
Um dos princípios para a construção dessa escola, nessa parceria, é a participação ativa de todos os envolvidos. Por isso, as equipes das 24 escolas que iniciarão a implementação do programa estiveram no encontro durante um dia inteiro na Escola de Formação de Professores da Secretaria de Educação para participar da co-construção desse protótipo de modelo pedagógico que tem como horizonte a construção de uma política pública para os anos finais do Ensino Fundamental em toda a rede. Foram convidados professores, coordenadores pedagógicos e diretores das escolas, além dos supervisores e coordenadores de núcleo pedagógico das quatro Diretorias de Ensino parceiras.
Essas escolas formam um conjunto bastante variado, incluindo baixos e altos resultados em indicadores como o Idesp (índice de desenvolvimento da educação de São Paulo) e diferentes perfis socioeconômicos e geográficos. Durante o encontro, as equipes foram convidadas a compartilhar o que já fazem pelo desenvolvimento pleno dos estudantes, com objetivo de identificar o potencial do trabalho realizado atualmente nesses locais. Em oficinas, os participantes também contribuíram para pensar o próprio processo de implementação da proposta para os anos finais.
“Nós estamos aqui montando uma rede colaborativa. A proposta não é fechada, vai ser construída a partir de um desenho que está pensado e que contará com materiais estruturados, mas que passará pela leitura crítica dos próprios educadores de modo a realmente dialogar com o que é necessário na ponta”, afirmou Cynthia Sanches, gerente de projetos do Instituto. “Temos um pontapé inicial, mas para dar certo contamos com aquilo que essas equipes identificarem como mais potente nesse desenho; queremos contar com os inputs, a crítica, o registro do que deu certo e do que precisa melhorar, o relato sistematizado de práticas que podem ser compartilhadas”, explicou.
Todo o trabalho desenvolvido nesse projeto envolve cocriação desde o primeiro momento, aliás, porque nasce de uma reflexão e articulação desenvolvidas ao longo dos últimos anos pela Secretaria de Educação por um modelo de escola inovador e uma política pública para os anos finais do Ensino Fundamental com uma identidade própria. A expertise do Instituto Ayrton Senna com educação integral e com projetos envolvendo juventudes somou-se a esse esforço. Ao longo de 2018, foram realizados diversos encontros entre as equipes das diferentes coordenadorias que compõem a SEESP e a equipe do Instituto para definirem conjuntamente as linhas básicas do protótipo, ao qual se somam agora as equipes das escolas e diretorias.
“Esta será a execução de algo planejado há bastante tempo e construído a muitas mãos. Parcerias assim são bastante importantes para o Estado de fato conseguir fazer a diferença na vida dos estudantes e suas famílias”, valorizou a secretária adjunta da Educação do Estado de São Paulo, Cleide Bauab Bochixio. “Por estar voltado para a construção de uma política pública, esse projeto também se articula com a visão de educação integral adotada na nova proposta curricular do Estado de São Paulo e com a Base Nacional Comum. É um caminho importante para avançar no desafio de implementar essas diretrizes gerais, especialmente por já contar com um processo de acompanhamento pedagógico para criar as bases para que a proposta seja sustentável”, explicou Célia Viam Rocha, coordenadora de gestão da Educação Básica na Secretaria de Educação.
É a esta construção que agora as escolas começam a fazer parte ao ativar o protótipo em 2019. A expectativa é que, além das ações nas escolas, também seja desenhada uma sistemática de acompanhamento e formação para as equipes envolvidas, o que garantirá apoio para a sequência do trabalho. O próprio itinerário de formação também será alimentado pelas contribuições dos professores, coordenadores e diretores ao longo do ano, com informações do acompanhamento e monitoramento e pelas demandas que as equipes apresentarem.
Estratégias para uma educação integral
O propósito maior nesta concepção de educação integral é a formação para a autonomia do estudante. Isso implica em criar oportunidades para desenvolver a capacidade de fazer escolhas de maneira fundamentada a partir do que desejam para suas vidas e de sua visão sobre si mesmos, contando para isso com o desenvolvimento articulado entre conhecimento intelectual e as chamadas competências socioemocionais (como colaboração, autoconhecimento e comunicação, por exemplo).
Entre as estratégias voltadas para a construção dessas oportunidades formativas está a chamada integração curricular. Há diversos caminhos para viabilizar essa integração, incluindo: trabalho por áreas de conhecimento (superando a fragmentação artificial de disciplinas que não conversam entre si, passando a realizar um planejamento conjunto e atividades integradas), o uso de metodologias integradoras (ancoradas na concepção de aprendizagem ativa, ressignificam práticas de ensino em iniciativas de educação por projetos, multiletramentos, sala de aula invertida, entre outras) e a inserção de um componente de projeto de vida (espaço dedicado essencialmente à construção identitária e dos projetos de futuro dos estudantes).
O programa de educação integral para os anos finais do Ensino Fundamental conta com o apoio da Fundação Volkswagen. O montante investido é uma contrapartida a recursos do BNDES direcionados à Volkswagen do Brasil.
Fonte: Instituto Ayrton Senna