Em 3 de julho de 2019, a Fundação Volkswagen comemorou quatro décadas de história. Criada pela Volkswagen, inicialmente com o objetivo de apoiar a escolarização de colaboradores e de seus familiares, hoje investe em ações de educação e desenvolvimento de comunidades, por meio de três causas prioritárias: mobilidade urbana, mobilidade social e inclusão de pessoas com deficiência.
A Fundação compartilha o propósito de mover pessoas pelo conhecimento. Movimentos que diminuem as distâncias e geram mudanças, transformando potenciais em realidade. O marco de 40 anos inspirou a instituição a revisitar suas ações e requalificar o impacto de suas atividades, que beneficiaram mais de 406 mil pessoas em 2018 e mais de 3 milhões de brasileiros desde 1979. Para falar dessas e de outras questões, a coluna Conversa Social entrevistou Daniela de Avilez Demôro, Diretora-Superintendente da Fundação Volkswagen.
Leia, abaixo, a entrevista na íntegra:
Fundação Volkswagen: Em julho de 2019, a Fundação Volkswagen está comemorando 40 anos de história. Como nasceu a Fundação?
Daniela Demôro: Há 66 anos, em 1953, o Grupo Volkswagen decidiu instalar-se industrialmente no Brasil. Foi a primeira fábrica da Volkswagen fora da Alemanha. Foi um marco que alavancou a industrialização do País, sem dúvida nenhuma. Não se tem como falar da marca Volkswagen sem falar do Fusca, da Kombi, da Brasília… mais do que para a marca, são carros que são ícones para o Brasil.
Naquele momento, a Volkswagen, já carregando a educação em seu DNA, a preocupação com a formação de seus empregados, não somente alavancou a industrialização do País, mas se dedicou também, através da Fundação, que neste mês faz 40 anos, a fazer com que esse braço social da empresa fosse o braço de melhoramento da sociedade.
A Fundação Volkswagen foi constituída em 3 de julho de 1979, contribuindo para estreitar a relação de parceria e confiança entre a Volkswagen e a sociedade brasileira. Seu objetivo inicial era proporcionar educação básica e técnica a colaboradores da Volkswagen do Brasil e seus familiares. Acompanhando a evolução dos indicadores educacionais do País, a instituição redirecionou seu investimento a partir do início dos anos 2000. O intuito passou a ser beneficiar ainda mais pessoas e ampliar seu impacto positivo para além dos muros das fábricas. Desde então, a organização realiza e apoia iniciativas de educação e desenvolvimento de comunidades.
FVW: O conceito de mobilidade aparece tanto no propósito da Fundação quanto em suas novas causas. Afinal, o que é mobilidade para a Fundação Volkswagen?
DD: Mobilidade, para a Fundação, resume-se na frase “Conhecimento que move pessoas”. Encontramos mobilidade tanto nesse nosso propósito quanto nas nossas causas: mobilidade urbana, mobilidade social e inclusão de pessoas com deficiência. É através da formação de educadores e gestores, é através da preocupação com o trânsito, com o empreendedorismo, com o resgate da cidadania, que pensamos a mobilidade. É criar o movimento. É inspirar o movimento. É fazer com que a sociedade entenda que é necessário movimentar-se: filosoficamente, emocionalmente, fisicamente. É através desse movimento que a Fundação almeja melhorar, prover e inspirar aqueles que conosco trabalham. Como um dos resultados do intenso processo de reposicionamento estratégico que temos realizado desde o ano passado, fizemos do “movimento” um dos valores da Fundação Volkswagen, além de respeito, equidade e inovação.
Na causa da mobilidade urbana, estamos preocupados não somente com os deslocamentos nas cidades – que envolvem temas como segurança viária, acidentologia, respeito no trânsito, planejamento urbano e cidades mais criativas e inteligentes. Também estamos engajados no acesso e apropriação positiva do espaço público pela sociedade, pois isso está diretamente ligado às nossas outras duas causas.
A mobilidade social, por sua vez, significa oferecer caminhos para que as pessoas se movam socialmente. Para isso, incentivamos o empreendedorismo e oferecemos formações profissionalizantes, impulsionando a geração de renda e o protagonismo comunitário. Por fim, o conceito de mobilidade também é essencial para falarmos da inclusão de pessoas com deficiência, que é um direito. Isso envolve acesso pleno às cidades e a todos os seus espaços físicos e simbólicos, a garantia de oportunidades e o fortalecimento da cidadania.
FVW: Para você, como é estar à frente da nova Fundação Volkswagen nesse momento de intensa transformação?
DD: Como líder, estar à frente da Fundação é um grande privilégio, além de uma grande responsabilidade. Na verdade, personifico uma equipe comprometida, feliz. Temos uma governança, os Conselhos de Curadores e Fiscal, que muito têm se dedicado à construção da nova Fundação Volkswagen. Temos Diretorias, analistas que acompanham os projetos, que participam disso tudo e que fazem a sociedade também participar.
Ser líder no terceiro setor é compreender que os projetos não são da Fundação; são aqueles de que a sociedade precisa. A Fundação vai realizá-los e coordená-los para que os cidadãos os recebam da melhor forma possível e com os melhores resultados possíveis. Ser líder no terceiro setor é ser um peregrino sempre. É acreditar. É estar à frente de situações desafiadoras, mas que não são muito diferentes daquelas vivenciadas por qualquer executivo.
Há uma dicotomia que se faz entre o executivo do terceiro setor e o executivo de empresas com fins lucrativos. Na verdade, hoje tenho visto um paralelo muito saudável de profissionalização do terceiro setor. É necessário compreendermos que o terceiro setor precisa fazer gestão de projetos, utilizar bem seus recursos, que também são poucos, diante da crise econômica global por que temos passado. Na Fundação Volkswagen, essa situação não é diferente. Apesar de representarmos um grupo de grandes marcas, nossos recursos são próprios, o que nos traz desafios financeiros também.
Por isso, precisamos de líderes que possam otimizar a utilização de recursos, gerir de forma aperfeiçoada e preparar e profissionalizar os parceiros que conosco trabalham. Acreditamos na educação do próximo, acreditamos no conhecimento que move pessoas e é através desse propósito que levamos, em conjunto com a liderança da Fundação, a sociedade a pensar a profissionalização do terceiro setor. Isso é muito importante e tem sido muito bem recebido. Existe sede por esse conhecimento e uma migração muito saudável de pessoas do mundo corporativo para as organizações com fins sociais. Isso renova nossa esperança e nos fortalece para continuarmos avançando nesse sentido.
FVW: Como você imagina a Fundação Volkswagen nos próximos 40 anos?
DD: Pensar na perenidade da Fundação Volkswagen nos próximos 40, 80 ou muitos anos mais, é pensar muito além de nós, líderes e equipes, que hoje aqui estamos. A Fundação veio há 40 anos para ficar e está tendo a coragem de renovar-se. Hoje, estamos trabalhando para garantir a sustentabilidade da instituição, aprimorando nossos resultados e fortalecendo nossa atuação em prol da sociedade. Esse é o verdadeiro propósito da Fundação: trabalhar pela sociedade, otimizando os recursos que dela própria advêm.
Esse movimento tem motivado a revisão dos critérios de investimento e do portfólio de projetos, a fim de torná-los mais aderentes à nossa nova estratégia. Para isso, precisamos mobilizar mais recursos humanos e financeiros, ampliando nosso engajamento e atuação. Estamos, por exemplo, alinhando nossos esforços de gestão e os indicadores dos nossos projetos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que fazem parte de uma agenda global adotada pela Organização das Nações Unidas.
Recentemente, revisitamos nossa missão, nossa visão e nossos valores. Desejamos ser referência de investimento social, consolidando-nos como instituição de excelência do terceiro setor nas causas que apoiamos. Diante de todo o empenho com que temos nos dedicado a essa tarefa, estou certa de que o conhecimento não só irá mover as pessoas, mas também irá inspirar um movimento virtuoso para que a sociedade acredite na Fundação como um verdadeiro fator de mudança e de maturidade, como um veículo de transformação efetiva da realidade. O mundo precisa de peregrinos, de fundações e de pessoas dedicadas ao terceiro setor, de profissionais que entendam que atuar em benefício dos cidadãos é a verdadeira missão que temos que levar para casa.
Confira os melhores momentos da entrevista no vídeo abaixo. A versão com audiodescrição está disponível no canal do YouTube.