Vida em Movimento – T2:E3 – Uma breve história da inclusão de pessoas com deficiência

“A diversidade é quantitativa, já a inclusão é qualitativa”. Com essa afirmação, o consultor de diversidade e inclusão em empresas Guilherme Bara, cego desde os 15 anos, dá uma boa ideia de qual lição de casa todos e todas temos, como sociedade, nessa questão. “Esse é o nosso desafio: pensar em diversidade, mas pensar em inclusão”, afirmou Bara durante a conversa que o Vida em Movimento teve com ele, parte do terceiro episódio (da segunda temporada) e que trouxe uma breve história da inclusão de pessoas com deficiência: desde o primeiros registros encontrados, ainda na pré-História, até os marcos legais da era moderna. O programa reúne informações e curiosidade sobre como as sociedades de todo o mundo já trataram dessa pauta, onde erramos e onde acertamos, e o que ainda precisa ser feito – além de conhecermos também sobre os projetos da Fundação Grupo VW nessa causa. Aperte o play e embarque com a gente nessa viagem!
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Vinheta de abertura

Fundo musical

Renata Pifer – Olá, todos e todas, bem-vindas e bem-vindos à segunda temporada do vida em movimento, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen. Eu sou Renata Pifer

Ludmila Vilar – E eu sou Ludmila Vilar

Renata Pifer – Hoje vamos falar um pouco sobre a história da inclusão das pessoas com deficiência, trazendo desde a evolução do olhar das sociedades, de hoje e de ontem, até os marcos legais; passando por como o terceiro setor abordou essa pauta ao longo dos anos.

Ludmila Vilar – A ideia é traçar um panorama sobre de onde partimos e até onde chegamos nesse cenário que envolve direitos humanos, mercado de trabalho, economia, comportamento, empatia e muita luta e vamos contar com a ajuda de um convidado muito especial para contar essa história: Guilherme Bara, consultor de diversidade e inclusão de empresas. Cego desde os 15 anos, trabalha com a temática de inclusão de pessoas com deficiência e diversidade.

Renata Pifer – Vem com a gente nessa viagem no tempo?

Ludmila Vilar – A gente vai começar pela pré-História, onde já podemos encontrar registros de, entre aspas, “doenças incapacitantes” que são tão antigas quanto a própria vida. No livro a epopéia ignorada, o autor Otto Marques da Silva, especializado em reabilitação profissional de pessoas com deficiência, fala da existência de um sistema de simbolismos envolvendo indivíduos com deficiência  que remonta ao período Paleolítico superior – 40 mil anos antes de Cristo.

Renata Pifer – E saltando para a antiguidade, paramos no Egito antigo e na Grécia antiga, duas civilizações que, limitadas em seus conhecimentos, são responsáveis pelos primeiros equívocos e atrocidades contra as pessoas que eram consideradas, por algum motivo, diferentes da maioria. Na terra dos faraós, acreditava-se que doenças graves, deficiências físicas e transtornos mentais eram provocados por maus espíritos, por demônios ou por pecados de vidas anteriores. E o pior: as pessoas deveriam pagar por eles. Já na Grécia, embora vejamos os primeiros sistemas de atendimento da história, os cuidados garantidos por lei não amparavam as crianças que nasciam com deficiência. Elas eram julgadas por uma comissão oficial de anciãos, ou pelo próprio pai, que determinavam o destino delas. Não raro, o julgamento terminava no sacrifício dessas crianças, justificado pelo ideal da busca por corpos perfeitos.

Ludmila Vilar – As coisas não melhoraram muito com o passar dos séculos. Estamos agora na idade média e com um agravante: o grande crescimento econômico vivido entre os séculos 5 e 15, que acabou trazendo muitas doenças epidêmicas (hanseníase, peste bubônica, difteria e influenza) que quase sempre resultavam em sequelas físicas consideradas “deformantes”. Essas enfermidades e suas consequências, assim como transtornos mentais e malformações congênitas, eram consideradas fruto de maldições, feitiços, bruxarias ou influência do próprio diabo. Ou seja? mereciam a ira celeste em vez de acolhida. Com isso, a prática de sacrificar as crianças seguiu por esse período. E as poucas que conseguiam sobreviver viviam à margem da sociedade: sozinhas, desprezadas, ridicularizadas e expostas em feiras como atrações de circo.

Renata Pifer – Durante os séculos 15 e 17, período conhecido como renascimento, foram dados os primeiros passos na inclusão e atendimento às pessoas com deficiência. Mas tudo de forma muito limitada pelo preconceito. Prevaleciam ainda, em muitos meios, as mesmas crenças das civilizações antigas.

Ludmila Vilar – Dando um novo salto e aterrissando na era moderna, passamos a ver uma sociedade começando a reconhecer sua responsabilidade com relação a grupos com maior vulnerabilidade. Um exemplo foi a criação, em 1867, nos Estados Unidos, do lar nacional para soldados voluntários deficientes, que abrigava combatentes da guerra civil norte-americana. Na Europa, surgem os locais específicos para proteção e assistência a cegos, surdos e mutilados de guerra. A ortopedia ganha espaço como especialidade médica e chance de tratamento, ou até mesmo recuperação, de lesões físicas. É quando se começa a falar em criar condições para que pessoas com deficiência pudessem viver suas próprias vidas de forma independente, preceito que norteou o surgimento, na Dinamarca, em 1872, da sociedade e lar de deficientes, e da comissão central para o cuidado do deficiente, em 1919, na Grã-Bretanha.

Renata Pifer – Após a Segunda Guerra Mundial, a formação do estado de bem-estar social nos países europeus levou ao crescimento da preocupação com assistência e qualidade do tratamento da população de modo geral, incluindo as pessoas com deficiência. Em 1945, as políticas voltadas a esses públicos ganham proporções internacionais com o surgimento da Organização das Nações Unidas, a ONU. Foi também no decorrer do século 20 que se estabeleceram as primeiras escolas especiais para crianças com deficiência intelectual em redes paralelas ao ensino público. Essa educação especializada começa a ser aplicada nas chamadas Associações Pestalozzi – em referência ao pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi. O mesmo é feito nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais, a APAE. Mas ainda estamos na era em que se usava termos como “excepcionais” e “portadores de necessidades especiais”.  As pessoas com deficiência física – chamadas até então de “deficientes físicos” – eram assistidas no âmbito da saúde, em centros de reabilitação mantidos por iniciativa não governamental e surgidos, nos anos de 1950 e 1960, por conta da epidemia de poliomielite.

Ludmila Vilar – É no final dos anos de 1970 que começa a crescer uma nova mentalidade, que resulta num movimento político das pessoas com deficiência – entendendo-se como “político” a equação entre mobilização, articulação por direitos e representatividade. Esse capítulo na história da inclusão coincide com a abertura política no Brasil, na primeira metade da década de 1980. No ano de 1980, associações representantes dessa agenda se reuniram em Brasília para um encontro que marcou o início de um sentimento de pertencimento a um grupo, a consciência de que os problemas eram coletivos e, logo, as batalhas e conquistas deveriam se dar no espaço público. 1981 é estabelecido pela ONU como o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência e, a partir daí, passa a haver a inclusão da palavra “pessoa” para se referir às pessoas com deficiência. O que quer dizer muito, já que, dessa forma, começamos a evoluir do campo do assistencialismo para a conquista de protagonismo, respeito e equidade.

Renata Pifer – Esse movimento culmina com a ratificação da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência aqui no Brasil, fruto do fortalecimento deste grupo populacional, que passou a exigir direitos civis, políticos, sociais e econômicos. No âmbito do Governo Federal, foi criada a Coordenadoria Nacional para integração da pessoa portadora de deficiência, em 1986, que deu lugar ao conselho nacional dos direitos da pessoa com deficiência. Em 1990, é aprovada a lei da pessoa com deficiência, nos Estados Unidos, aplicável a toda a empresa com mais de quinze funcionários. Em 1992, a ONU cria o dia internacional das pessoas com deficiência, lembrado todo 3 de dezembro. No Brasil, o dia nacional da luta da pessoa com deficiência é celebrado em 21 de setembro. Em 1997, por meio do Tratado de Amsterdã, a União Europeia se compromete a facilitar a inserção e a permanência das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Ludmila Vilar – Antes disso, em 1991, o Brasil já tinha criado a Lei de Cotas, que estabelece que empresas com cem ou mais empregados preencham uma parcela de seus cargos com pessoas com deficiência. Em 2008, em São Paulo, é criada a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência. No ano seguinte, o conselho nacional dos direitos da pessoa com deficiência se torna a secretaria nacional de promoção dos direitos da pessoa com deficiência, na estrutura da secretaria de direitos humanos da presidência da república. E em 2014, a ONU lançou a cartilha que reuniu diversas convenções sobre os direitos das pessoas com deficiência. O documento funciona como um guia para que todas as pessoas, com e sem deficiência, possam ter um panorama da legislação voltada a essa parcela da sociedade.

Renata Pifer – Mas como todas essas conquistas impactam a vida das pessoas com deficiência? Ninguém melhor para contar isso para a gente do que o nosso convidado, o Guilherme Bara. Olá, Guilherme, seja bem-vindo ao nosso podcast e muito obrigada por aceitar nosso convite.

Guilherme Bara – É um prazer conversar com vocês sobre um tema tão relevante cada vez mais presente na sociedade. Agradeço bastante o convite de vocês.

Renata Pifer – Você pode nos dar seu parecer sobre esses marcos legais que, ao menos em tese, significam grandes avanços na luta por direitos das pessoas com deficiência?

Guilherme Bara – Não é só em tese que esses marcos influenciam e impactam a qualidade da relação, da inclusão. Na prática a gente tem mudanças bastante significativas quando olha para trás e vê uma evolução desde lá da Pré-história até hoje onde, inicialmente, a pessoa com deficiência sempre era colocada à margem da sociedade. Seja porque ela era percebida como alguém sem alma, seja porque ela era percebida como uma divindade. Sempre era desumanizada a pessoa com deficiência. E só muito recentemente que começa os conceitos de integração, que é quando a sociedade fala “vem junto”. Mas é um “vem junto, mas se vire”. Mais para a frente vem o conceito de inclusão, que é “vem junto que eu crio as condições para você estar junto”. Sob esse guarda-chuva do olhar da inclusão, para comentar uma situação mais aqui local do Brasil, a gente tem a Lei de Cotas que, aí sim, revolucionou o processo da inclusão social. Porque quando a gente inclui no trabalho, você está promovendo o protagonismo, você está criando renda, você está fazendo com que as pessoas com deficiência, que eram invisíveis na sociedade, saiam de casa. E, saindo de casa, elas passam a demandar por uma calçada acessível, por um transporte adaptável. Você começa a ter mais convívio entre pessoas com e sem deficiência. Com isso, a gente ajuda a ir quebrando aqueles paradigmas, aqueles viés que a gente tem com relação às pessoas com deficiências e você, enfim, você traz a pessoa para o centro da conversa. Ela passa a ser consumidora. A inclusão do profissional com deficiência foi o que catalisou, o que tem acelerado a inclusão social como um todo.

Renata Pifer – Considerando que a diversidade e a inclusão são fundamentais e estratégicos para o desenvolvimento dos negócios, como essa pauta deveria interessar a todos – pessoas com e sem deficiência?

Guilherme Bar – A primeira mudança no olhar que a gente provoca é assim: quando você fala que tem um negócio que atende a todos, que você respeita a todos, a pergunta que a gente faz é: quem cabe dentro do seu todo? Porque dentro do ser humano as pessoas têm características e se você só inclui a pessoa “desde que não tenha essa ou aquela situação”, na verdade, o seu negócio, a sua abordagem, o seu respeito, são seletivos. E quando a gente pensa, né, num negócio, numa empresa, num gestor de pessoas, são pessoas e suas características. Porque na verdade a gestão da diversidade nada mais é do que a gestão de pessoas e hoje, graças a diversos fatores – mas, entre eles, por exemplo, as redes sociais, onde as pessoas conseguem ser protagonistas, onde está a visibilidade para situações que antes era camufladas, invisibilizadas –, esse tema vem à tona e a demanda por um olhar para todos. Então, olhar para essa questão é fundamental e a gente só avança com qualidade nessa conversa da diversidade e inclusão quando a gente entende a diferença entre diversidade e inclusão. A diversidade é quantitativa, já a inclusão é qualitativa. Se ela [a pessoa com deficiência] chegar aqui, ela vai ter um leitor de tela – caso ela seja cega? Ela vai ter os recursos para ela poder trabalhar, fazer lá o trabalho dela nos aplicativos, nas planilhas, nos editores de texto? Então, esse é o nosso desafio: pensar em diversidade, mas pensar em inclusão, porque aí a gente atende com qualidade o nosso cliente. A gente vai ser um bom gestor pro nosso colaborador e a gente vai se conectar melhor com as reais e atuais demandas da sociedade.

Renata Pifer – Não poderíamos deixar de falar sobre a possibilidade de retorno da educação especial nas escolas, que mais uma vez voltou ao debate no brasil. qual sua opinião sobre essa questão?

Guilherme Bara – Sou cego desde os 15 anos. Eu perdi a visão por causa de uma doença chamada retinose pigmentar, as células da retina vão parando de funcionar e eu sempre estudei em escola regular, estudei aqui em São Paulo num colégio chamado Dante Alighieri e estudei no Instituto Mauá de Tecnologia, me formei em administração, também numa faculdade regular, fiz MBA na FIA e sempre foi bastante inclusivo. Lógico que quando a gente ouve declarações desse tipo mostra bastante desconexão, bastante desconhecimento na verdade. Esse pensamento reflete a opinião de muita gente. O debate, a gente esclarecer esse tema, é importante. Mas o que causa bastante desespero, eu diria, é isso partir do líder institucional do tema da educação, porque daí a gente vê que o desafio é maior, a gente vê que o foco não está na solução, está na barreira, e é isso que a gente precisa quebrar. O processo de inclusão, ele é desafiador, ele não é fácil, mas ele é possível. E ele se torna possível quando a gente coloca o foco na solução. Porque a minha inclusão na escola foi excelente pra mim, mas, talvez, tenha sido melhor ainda para os meus amigos sem deficiência que conviveram e que interagiram comigo de uma maneira muito tranquila, muito natural. Eles tiveram uma experiência de vida que nenhuma disciplina da escola traria. Então, é muito bacana ver como as pessoas que conviveram comigo lidam bem com esse tema, tem olhar mais aberto e sabem que o foco da solução é bastante possível quando a gente fala da inclusão da pessoa com deficiência.

Ludmila Vilar – Você sabia que as pessoas com deficiência talvez possam contar com um apoio valioso na forma de um cão-guia robô que já começou a ser fabricado aqui no brasil – e tem até nome: Lysa? A novidade já vem sendo comercializada e não é exatamente barata: custa R$ 9,8 mil.  No entanto, vale lembrar que um cão-guia pode custar até R$ 50 mil – razão pela qual, inclusive, há tão poucos desses dogs no Brasil: cerca de apenas 100.  A Lysa, fabricada no Espírito Santo, tem sensores que emitem mensagens de voz alertando sobre barreiras e perigos no trajeto. Ela é capaz de evitar que o caminhante colida com objetos da esquerda, da direita, da frente e também que tropecem em buracos. E um grande diferencial, com relação às bengalas especiais tradicionais: o cão-guia robô consegue prever obstáculos suspensos, como galhos de árvores, orelhões e lixeiras. Vale lembrar que a Fundação não endossa nenhum produto, mas fica aqui a dica, e a curiosidade, para quem se interessar em saber mais sobre a Lysa. Esperamos que ela possa mesmo transformar a vida das pessoas com deficiência visual.

Renata Pifer – Transformação, aliás, pode ser considerado um termo chave no trabalho junto a pessoas com deficiência. A Fundação Grupo Volkswagen acredita na transformação de potenciais em realidade, e compartilha o propósito de mover pessoas pelo conhecimento em suas causas, tanto na inclusão de pessoas com deficiência quanto na mobilidade urbana e mobilidade social. Atualmente, a Fundação mantém dois projetos na causa da inclusão: o brincar e o empreendedorismo para todos. O Brincar atua na educação da primeira infância, propondo o uso da brincadeira como ferramenta pedagógica para promover a inclusão das crianças, com ou sem deficiência, na escola comum. A ação é realizada pela Fundação em parceria com a Mais Diferenças e a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Até agora, o projeto já formou quase 8 mil educadores e beneficiou indiretamente mais de 228 mil alunos e professores – envolvendo 1.974 unidades de ensino.

Renata Pifer – Já o Empreendedorismo para Todos tem o objetivo de incentivar pequenos negócios, a fim de melhorar a qualidade de vida e promover a inclusão produtiva de pessoas com deficiência na sociedade, contribuindo para sua autonomia e mobilidade social. A iniciativa é financiada pela Fundação e realizada pela ASID Brasil – Ação Social para Igualdade das Diferenças. Por meio dela, 140 negócios foram contemplados com aulas semanais sobre empreendedorismo que abordam questões fundamentais, como preço e cobrança, vendas, gestão financeira, processo produtivo e divulgação. Além disso, depois das aulas, serão selecionados 20 participantes que receberão apoio de mentores para colocarem o conteúdo em prática. A cerimônia que marcará o fim dos trabalhos está programada para o mês de setembro – siga a Fundação nas redes sociais para saber mais.

Ludmila Vilar – E por falar em inclusão no mercado de trabalho, vocês sabiam que empresas mais diversas são 23% mais lucrativas? Os dados são de um estudo realizado, em 2018, pela Mckinsey & Company. O mesmo levantamento aponta que o engajamento das empresas e suas lideranças com a causa da inclusão é fundamental, para que ela de fato se transforme numa mudança efetiva na cultura corporativa. Saiba mais na publicação Panorama Brasileiro de Inclusão da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho, realizada pela Fundação Grupo Volkswagen, em parceria com a ASID Brasil, e disponível em nosso site: fundacaogrupovw.org.br/materiais-educativos

Renata Pifer – E voltando ao nosso convidado, vamos falar de caminhos para promover a inclusão. Guilherme, quais formas temos para fazer isso? E quais os desafios para sua implementação?

Guilherme Bara – Olha, ainda falando no papel da sociedade, a gente tem o viés que associa deficiência com incapacidade quase que automática e a gente precisa quebrar. A gente precisa saber a diferença entre deficiência e incapacidade. A deficiência é uma característica possível no ser humano. Que se você que está ouvindo a gente, que acompanha essa conversa olhar para o lado na sua empresa, certamente você vai ver várias pessoas que são ruins de matemática, de física, de química, mas, dificilmente você vai ver uma pessoa cega, uma pessoa surda. Por isso que tem que colocar uma lupa nesse tema, pra gente de fato fazer um diagnóstico e focar na solução. A minha deficiência relacionada a alguma barreira é que pode me tornar incapaz. Mesmo cego eu consigo mexer em tudo, no word, no excel, mandar e-mail, navegar na internet. Só que muitas vezes essa barreira não é um simples leitor de tela, uma rampa ou uma comunicação inadequada para quem é surdo.  Na maioria das vezes essa barreira é mais difícil de ser transportada porque ela é invisível. É uma barreira de atitudes. Então, o desafio da sociedade é quebrar esse paradigma que relaciona automaticamente a deficiência com incapacidade e dar a oportunidade. Perguntar: Olha, dá para você fazer essa tarefa? Tem algum suporte que eu possa te dar? Dê a oportunidade pro sim, para que uma pessoa com deficiência possa ser protagonista da sua carreira, da sua vida em geral.

Renata Pifer – E para fechar a nossa conversa você gostaria de deixar uma mensagem?

Guilherme Bara – Para finalizar, Renata, eu vou mandar um recado para as pessoas que assim como eu também têm deficiência. Muitas vezes a gente tem, né, desafios, o tempo todo. E isso nos traz angústias, isso às vezes nos deixa assim, um pouco bravo, com toda razão. mas o convite que eu faço para você que também tem deficiência é: nós que temos deficiência precisamos entender que o caminho da inclusão é de mão dupla., depende da sociedade da empresa, da escola e depende da gente em ajudar a construir a solução. Então, eu te convido a ter esse ambiente onde as pessoas, inclusive, se sintam à vontade para errar com a gente. A gente só inclui alguém de fato quando a gente fica à vontade para ter todo sentimento por ela, da paixão até a raiva. Mas, principalmente quando a gente fica à vontade para errar. Então, vamos criar um ambiente desarmado, onde a gente esteja lá educando as pessoas mas, vamos respeitar a vulnerabilidade do outro assim como a gente respeita as nossas próprias vulnerabilidades. Quero agradecer bastante o convite. Foi um prazer conversar com vocês sobre a inclusão das pessoas com deficiência, que é um tema que eu vivo, que eu estudo e que eu trabalho. E espero nos encontrarmos em breve, um abraço.

Ludmila Vilar – E para finalizarmos, mais um case inspirador: o do fotógrafo Antônio Walter Barbero, também conhecido como Teco Barbero. Nascido em Sorocaba, interior de São Paulo, Teco é considerado um dos primeiros fotógrafos brasileiros com deficiência visual – ele tem 5% da visão. O artista, além dos trabalhos autorais, também participa de coberturas de eventos e dá cursos de fotografia.  “Retrato minhas impressões para seguir na vida através de meu olhar”, contou em uma entrevista ao Portal G1. E engana-se que pensa que Teco só escolhe ocasiões em que pode trabalhar sozinho. Em 2011, o desafio de cobrir a visita do governador do Mato Grosso do Sul a uma feira colocou o fotógrafo lado a lado com colegas sem deficiência.  No mesmo ano, ele aceitou um convite da revista Isto É para realizar um ensaio com paratletas. Desafios aceitos e trabalhos entregues!

Renata Pifer – E assim encerramos esse terceiro episódio da segunda temporada do vida em momento. Esperamos que esse pequeno recorte da causa de inclusão que trouxemos aqui possa te aproximar dessa pauta tão importante para nós como sociedade. A graça da vida está na diversidade, e uma sociedade inclusiva é benéfica para todos e todas!

Ludmila Vilar – Até o próximo episódio, pessoal.

Locutor – O podcast Vida em Movimento é uma realização da Fundação Grupo Volkswagen. Produção, pesquisa e roteiro: RPTCom e Fundação Grupo Volkswagen. Apresentação: Renata Pifer e Ludmila Vilar. Produção musical, gravação, edição e finalização: Groove Audiomedia. O convidado foi Guilherme Bara, consultor de diversidade e inclusão de empresas. Se você quiser saber mais sobre inclusão de pessoas com deficiência, acompanhe nossos site ou siga a gente nas redes sociais