Vida em Movimento #03 – Negócios de impacto social

O Brasil é um dos países com menor mobilidade social, de acordo com o ranking divulgado pelo Fórum Econômico Mundial no início de 2020. Mas, você sabe o que isso significa? Neste episódio, Marcelo Abud e Renata Pifer recebem Túlio Notini, Diretor de Corporate da Yunus Negócios Sociais, para explicar sobre o tema e como os negócios de impacto social podem contribuir na transformação desse cenário. Ouça agora!
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Confira a transcrição do áudio

Fundo musical.

 

Narrador:
“Vida em Movimento”, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen.

Fundo musical.

Marcelo Abud:
Olá! Estamos de volta com mais um Vida em Movimento. Eu sou Marcelo Abud, professor e podcaster.

Renata Pifer:
E eu sou Renata Pifer, internacionalista e integrante do time da Fundação.

 

Fundo musical.

 

Renata Pifer:
Você sabe o que é mobilidade social?

O termo remete à ideia de movimento, mas nesse caso, tem a ver com a prosperidade socioeconômica dos cidadãos. Está relacionado, por exemplo, à geração de renda para indivíduos e comunidades, por meio do incentivo ao trabalho e emprego, à educação e ao empreendedorismo.

Marcelo Abud:
Renata, para mostrar o quanto esse assunto precisa entrar nas nossas conversas, eu trago uma informação de estudo feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O documento aponta, que famílias pobres brasileiras levariam nove gerações para alcançar a renda média do país.

 

Renata Pifer:
Uma das formas de ajudar a mudar esse cenário é por meio de negócios de impacto social.

 

Marcelo Abud:
Para entender melhor sobre os conceitos de mobilidade social e dos negócios de impacto social, está aqui conosco o diretor de Corporate da Yunus Negócios Sociais, TÚLIO NOTINI.

 

Renata Pifer:
Fundada em 2011, a Yunus através do mindset dos Negócios Sociais – iniciado por seu co-fundador e Nobel da Paz, professor Muhammad Yunus – trabalha com modelos de negócios inovadores em diferentes geografias do mundo. Sua atuação divide-se em duas unidades estratégicas: Investimentos e Corporate, apoiando negócios sociais e grandes empresas na geração de impacto social.

 

Marcelo Abud:
Muito obrigado pela participação neste terceiro episódio do Vida em Movimento!

 

Túlio Notini:
Agradeço o convite, uma honra. Espero que todos estejam saudáveis nas suas casas. A Yunus Negócios Sociais está aqui no Brasil desde 2013, e como a Renata falou a gente vem trabalhando aí com duas frentes: um apoio a negócios sociais, então através de um fundo de investimento, capacitando, investindo financeiramente nesses negócios, e através da outra unidade, que é a unidade que trabalha com grandes corporações e, temos aí um trabalho já com a Fundação Grupo Volkswagen, ajudando elas a criar mais impacto positivo através dos seus negócios.

 

Marcelo Abud:
Túlio, pra começar nosso papo seria bacana você explicar o que é mobilidade social, negócios de impacto social e como eles se relacionam.

 

Túlio Notini:
Eu não sou sociólogo e aqui o que trago é resultado de alguns anos trabalhando com problemas e negócios sociais. O termo mobilidade social que ele é do campo da Sociologia e como ele sugere, ele significa o deslocamento de indivíduos ou grupos entre posições sócio econômicas diferentes.

Estamos falando na prática das possibilidades de uma pessoa, por exemplo, nascido em uma classe socioeconômica mais baixa ascender à uma classe mais alta, melhorando assim suas condições de vida, dos seus familiares e das gerações futuras. Entretanto, nós sabemos que isso não acontece especialmente em países emergentes.

Nesse caso, a desigualdade de oportunidades de renda atravanca as possibilidades de mobilidade social. Portanto, fica claro que a mobilidade social e a desigualdade social, elas se correlacionam de forma indireta. Quanto maior a desigualdade, menor a mobilidade social daquele país. Pense que esses níveis devem piorar ainda mais num contexto de pós-pandemia, por isso mais do que nunca é urgente pensar, lutar e agir para diminuir a desigualdade aqui no nosso país.

Então, como uma ONG, o negócio social tem uma missão social, mas como um negócio tradicional, ele gera receita suficiente para ser sustentável financeiramente. O sucesso desse tipo de negócio é principalmente também pelo seu impacto social criado para as pessoas e para o planeta. Os negócios sociais eles existem para diminuir as desigualdades no mundo. Seja uma desigualdade no acesso à educação, à saúde, moradia, saneamento, crédito.

Se eles existem pra isso, eles também existem para permitir que o filho de uma família de baixa renda tenha mais condições de ascender, de melhorar de vida e levar consigo sua família e as próximas gerações.

 

Renata Pifer:
E quem pode contribuir com esse tipo de negócio, Túlio? São só as empresas ou, por exemplo, um de nossos ouvintes pode fazer algo para apoiar um negócio social?

 

Túlio Notini:
Renata, eu posso falar que esse movimento de empreendedorismo social e investimento tem crescido e tem espaço para todo mundo. A gente tem grandes empresas se envolvendo nessa agenda, criando impacto social a partir do seu negócio. E também quando a gente vai para pessoa física, o ouvinte, a gente pode até falar de empreender socialmente.

O empreendedor começa ali numa inquietação, da percepção de um problema social que lhe incomoda e aquela vontade de fazer um pouco mais e ser parte de uma solução. E aí eu pergunto: por que não usar suas habilidades, seu conhecimento, seu potencial todo para criar um negócio e além disso criar valor positivo para a sociedade? Então assim, posso falar que possibilidades não faltam, para quem realmente quer, sente essa vontade, quer por seu propósito realizado, é uma agenda que tem permitido aí diversas interações.

 

Marcelo Abud:
E com base nas suas experiências na Yunus, você poderia compartilhar conosco algum case brasileiro que foi marcante para você?

 

Túlio Notini:
Queria contar um especialmente que foi o Muda Meu Mundo, que a gente se conheceu através de uma aceleração que chama Itaú Mulher Empreendedora, que foi em parceria com o Itaú, e que tinha o objetivo de acelerar negócios de impacto liderados por mulheres.

O Muda Meu Mundo, ele é um negócio que nasceu para resolver dois grandes problemas: de um lado a exploração de agricultores familiares, e do outro o custo excessivo dos produtos orgânicos. Então o que ele faz é uma ponte entre o produtor e o consumidor, tornando mais acessível à população em geral o consumo de alimentos sem agrotóxico através de um mercado justo. Trabalha com a capacitação desse pequeno produtor para que ele tenha uma produção sustentável e orgânica, do outro lado trabalha com modelo de escoamento que se baseia no modelo de cluster. Basicamente o cluster é juntar vários produtores de uma mesma região e oferecer isso para o mercado de forma agrupada. Dessa maneira você consegue reduzir perdas e aumentar até o ganho na cadeia de forma geral. Eles vendem quinze a vinte por cento mais barato para o consumidor do que o orgânico convencional, e ainda assim consegue ter um lucro para o seu negócio se manter de pé. Ele é coordenado pela Priscila Veras e ele tem sede em Fortaleza. É um case realmente muito incrível.

 

Renata Pifer:
Que legal, Túlio. Obrigada por trazer esse exemplo para nós. E agora, eu vou fazer um gancho aqui com o nosso tema e a Fundação. No ano passado, aconteceu a primeira edição do Prêmio Fundação Grupo Volkswagen. Nós tivemos milhares de inscritos de todo o país e foram escolhidas dentre esses inscritos seis organizações para participar de um programa de aceleração com o pessoal da Yunus por 12 semanas e, depois de passarem por uma banca de seleção, três finalistas foram contemplados com 100 mil reais cada um. Túlio, conta para nós como foi a experiência de trabalhar com projetos voltados para as causas de atuação da Fundação?

 

Túlio Notini:
Foi realmente um prazer, uma descoberta conjunta assim. Eu acho que por ser o primeiro, a gente acabou criando muita coisa em conjunto, ouvindo e entendendo essas causas de atuação. E é muito interessante a gente ver a Fundação colocando a sua força para fazer isso acontecer.

O que a gente quer que as empresas entendam, que dentro do que elas fazem, tudo que elas têm como causa, é possível conectar com impacto. É possível conectar com resultado positivo para a sociedade.

Ali dentro do programa, a gente trabalhou os três pilares né, que é mobilidade social, mobilidade urbana e inclusão da pessoa com deficiência. E o que mais surpreendeu é ver que no Brasil inteiro existem realmente milhares de empreendedores atuando e querendo transformar sua realidade.

Hoje, na minha experiência pessoal ver depois de quase 6 meses, o programa ter terminado e a gente está numa nova fase de acompanhar os contemplados, é ver o crescimento desses negócios. Inclusive, na capacidade deles de reagir a um contexto de pandemia e continuar criando impacto. É um alinhamento estratégico muito importante para o desenvolvimento da sociedade brasileira.

 

Marcelo Abud:
Túlio, no começo da nossa conversa, você falou um pouco sobre o cenário que a gente vive e as preocupações, né, até dessa diferença social que pode aumentar com a Covid-19. Então eu queria que você falasse um pouquinho da importância dos negócios sociais nesse momento atual e o que que você projeta para o que vem depois da Covid-19?

 

Túlio Notini:
A crise vem falar para gente: “Temos isso aqui. Como gente vai reagir a isso?”. Nós vamos reagir voltando para trilha que nos trouxe até aqui, ou a gente quer redesenhar e repensar um novo caminho?

É… a gente brinca aqui, que a gente gosta de criar ficção social e não ficção científica. Que mundo eu quero criar, que ficção social é essa que eu quero criar e como que hoje eu começo a desenhar o sonho dessa ficção?

Para que a gente não se sinta imobilizado, inativo. Para que a gente use tudo que a gente tem em mãos para transformar e fazer desse mundo, um mundo mais justo, mais igualitário.

 

Fundo musical.

 

Renata Pifer:
Em nome da Fundação Grupo Volkswagen, eu quero aqui agradecer a participação e as reflexões que nos trouxe o Túlio Notini, Diretor de Corporate da Yunus Negócios Sociais.

 

Fundo musical.

 

Marcelo Abud:
Queremos saber quais os movimentos que você tem feito em sua vida e na comunidade para que o mundo seja um lugar mais equitativo e sustentável. Conte pra nós em nossas redes sociais.

 

Renata Piffer:
A produção e o roteiro do Vida em Movimento são da Espiral Interativa e da Peças Raras Produções em Áudio, em parceria com a Fundação.

 

Marcelo Abud:
Obrigado e até a próxima!

 

Fundo musical.